Contos de Ceinha...

Deixe-me ser feliz por um minuto.

     Autora: Adilcéa (Ceinha)

Pediria a Deus assim: Deixe-me ser feliz por um minuto?
Com este minuto eu abraçaria meu pai que nunca abracei, olharia nos olhos dele e lhe diria assim: Vamos cantar?
Porque a partir daí eu saberia de todos os sentimentos que ele trazia em seu coração e eu nunca soube, somente sabia que ele era o mantenedor da casa e era sua obrigação nos manter e nos sustentar, nunca dei nem recebi amor. Por mais um minuto eu queria olhar nos olhos de vovó e ouvir as histórias da minha bisa, do tempo da escravidão, quando ela contava que se casou aos doze anos de idade e que de manhã levantou-se e foi brincar de boneca atrás da casa...
Com esse minuto perguntaria a minha mãe porque você é tão revoltada?
O que te faz tão infeliz?
E tentaria entender tanta revolta e acomodação em não tentar nunca uma forma de mudar.
Por um minuto eu queria experimentar meu primeiro baile, meu primeiro salário, meu primeiro beijo, minha primeira noite de sexo, minha primeira experiência de ser mãe, de ser avó...
Pediria também por um minuto poder experimentar o prazer de correr, brincar de pique bandeirinha, cobra cega, voltar nem que seja por um minuto a ser criança, sentir a sensação de dançar a primeira música ao som de Elvis Presley, dos Beatles e curtir Dolores Duram, Nora Nei e Nelson Gonçalves.
E como eu faria desse minuto uma eternidade!!!
O Tempo não para, e não podemos parar o tempo, como eu gostaria de voltar a ser criança só por um minuto, comer o meu pedaço de pudim hum!!!, Meu primeiro dia na escola, meu primeiro carnaval, minha primeira calça comprida, meu primeiro soutien, será que é impossível reviver o passado?
SIM é impossível, o tempo mata, porque um minuto depois de escrever, esse minuto atrás já é passado, mas se deixarmos  embalar nossas lembranças, ele ficará na nossa mente e em nosso coração e reviveremos sempre este minuto de felicidade.

                         Adilcéa Souza Guimarães.