O Povo Errante.
Adilcéa (Ceinha) |
Mas existia nesse morro uma sensação de liberdade, uma alegria que se manifestava ao cair da noite, quando as crianças se aquietavam e as pessoas sentavam nos seus quintais e ali eles proseavam; compadre pra lá e compadre pra cá, até o sono chegar era um converse só.
A lua brilhava tão perto que a impressão que se tinha era de poder pegá-la com as mãos e esse era um povo montanhês orgulhoso, que tinha a alegria de dizer que era a terceira geração montanheira, sentia muitas vezes essa pobreza extrema chegar a sua porta, mais era orgulhoso da sua montanha.
Angra estava aos seus pés, esse povo era o guardião das matas, das águas, das nuvens e do vento que cortava a cidade; povo feliz que se contentava com o feijão com farinha e até que às vezes com um gambá pego em seu quintal, um pirão de peixe que às vezes ganhavam no cais e assim viviam os “Buleianos” na conformação que todos os dias seriam iguais; pobre povo montanhês, mal sabia que a natureza que chorava com os pingos da chuva iria fazer descer o seu paraíso.
Para onde vamos? Quem fará um barraco pra nós? Dizia o povo assustado. E a ordem chegou: todos para baixo e então todos lentamente um a um deixaram o seu paraíso, sua história; suas raízes ficaram na lembrança dos cantos dos pássaros, no barulho das águas, na lua, nas nuvens e nas estrelas.
Chora a mata, os pássaros que fugiam das crianças e até as cobras que desceram o morro procurando os moradores do seu quintal. Fica a saudade e a lembrança de um povo que era feliz com tão pouco e agora está nas mãos de Deus.
Aldicéa Souza Guimarães.
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