sábado, 17 de setembro de 2011

REFLEXÃO DO EVANGELHO - 18/09/2011

25º Domingo do Tempo Comum
Mateus 20,1-16ª - Estás com inveja porque eu estou sendo bom?
REFLEXÃO
Na parábola dos trabalhadores descontentes com o pagamento, se reflete o modo de agir de Deus, contrario à nossa mentalidade utilitarista. A parábola pode ser situada no contexto da controvérsia de Jesus com as autoridades judaicas pela relação de Jesus com pessoas de reputação duvidosa, como publicanos, pecadores, enfermos, crianças, pagãos e mulheres, precisamente aqueles que eram considerados impuros e, portanto, excluídos do círculo de santidade.
Porém, no contexto da comunidade de Mateus, percebe-se o conflito produzido entre os judeu-cristãos e pagãos convertidos ao cristianismo que faziam parte da mesma comunidade. Era inaceitável que os recém convertidos tivessem o mesmo trato dos que já pertenciam há muito tempo à comunidade, como era o caso do povo eleito. É claro que o encontro entre judaísmo e cristianismo no seio de uma mesma comunidade ficou bastante complicado. Assim o manifestam outros escritos do novo testamento como a carta aos gálatas.
A parábola narrada por Jesus parte de um fato real. O proprietário representa os donos de terras, conquistadas dos camponeses. Os desocupados simbolizam os que haviam perdido tudo e ofereciam seu trabalho por qualquer valor para poder sobreviver. Evidentemente que havia os clientes fixos dos proprietários, isto é, aqueles que sempre eram contratados e durante o dia apareciam os de última hora.
A chave de leitura da parábola não está na atitude equitativa do patrão, pois ele poderia pagar como queria. O que chamou a atenção dos ouvintes é que tenha preferido os que não eram seus trabalhadores (os da última hora) preferindo aos que já eram seus trabalhadores (os da primeira hora). Situação incompreensível sob qualquer ponto de vista.
O sistema religioso do tempo de Jesus e das primeiras comunidades centrava a prática religiosa no mérito e no pagamento. A salvação já se havia convertido em um mercado de compra e venda. Jesus questiona a fundo essa mentalidade que tanto mal fez ao povo. A salvação é dom gratuito de Deus. E a graça tem a ver com o amor misericordioso. Deus não manipula nossos esquemas contábeis, interesseiros e lucrativos. Para Deus, tanto os primeiros como os últimos são objeto de seu imenso amor e misericórdia.
Hoje temos que superar todo espírito de competição e cobiça. Temos que superar, sobretudo, o "exclusivismo" que ainda está presente no subconsciente cristão: já não falamos nem o sustentamos, porém muitos continuam pensando: nós, nossa religião, é a única verdadeira, e portanto, superior, definitiva, insuperável, aquele que as demais religiões e culturas devem confluir...
Se já muitos abandonaram aquela visão veterotestamentaria de que "as nações e os povos virão adorar a Deus em Sião", porque sociologicamente já não parece previsível nem viável que o mundo um dia seja todo ele cristão, não deixamos de ter essa consciência de "exclusivismo" quando nossas autoridades e hierarquias condenam autoritariamente e sem dialogo algumas opiniões sociais, critérios éticos, que se dão em distintas sociedades, apoiados no convencimento de que nossa verdade é inquestionavelmente superior à dos demais, por principio e que teríamos direito a impor na sociedade (laica, aconfessional), sem necessidade sequer de dialogar e convencer a população... É uma atitude de complexo de superioridade que não tem nenhuma justificativa.
A abertura a todos, o reconhecimento sincero de que não temos um "gratuito e imerecido direito de primogenitura", que não somos "os (únicos) eleitos", que os que nos consideramos tradicionalmente "últimos" (ou posteriores a nós) não o são, que Deus é "gratuito" e sem favoritismos... são ainda reflexões pendentes para as Igrejas cristãs...
Não há dúvida de que aceitar em profundidade a mensagem evangélica de hoje de que "os primeiros serão os últimos", exige de nós uma mudança profunda de mentalidade. Também o pluralismo religioso e do dialogo intercultural devem ser elencados entre esses grandes desafios gerados pela descoberta mais profunda da "gratuidade de Deus" que a parábola do evangelho de hoje volta a colocar diante de nossos olhos.
Oração
Ó Deus, nosso Pai e nossa Mãe, que colocaste a plenitude da Lei no amor a ti e ao próximo, concede-nos conhecer, amar e cumprir tua vontade para que teu reino esteja cada dia mais presente e operante em nosso mundo. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.

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