domingo, 16 de setembro de 2012

XXIV Domingo do Tempo Comum - Mc 8, 27-35

O texto de hoje descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pela propaganda do governo da época que só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele o queria.
 
Esta "mentalidade" de Pedro era fruto da história do seu tempo. Nos anos 70, quando Marcos escreveu, a situação das comunidades não era fácil. Havia muito sofrimento, muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero tinha decretado a primeira grande perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na Palestina, Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países, estava começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus não-convertidos. A dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus achavam que um crucificado não podia ser o messias tão esperado pelo povo, pois a lei afirmava que todo crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).
Jesus perguntou: ''Quem diz o povo que eu sou?'' Eles responderam relatando as várias opiniões do povo: ''João Batista'', ''Elias ou um dos profetas''. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: ''E vocês, quem dizem que eu sou?'' Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Messias''. Isto é, és aquele que o povo está esperando. Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isso ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).
Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça. Pedro leva um susto, chama Jesus de lado para desconcertá-lo. E Jesus responde a Pedro: ''Vá embora, Satanás''. Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens''. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra certa ''Tu és o Cristo''. Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. A resposta de Jesus foi duríssima ''Vá embora, Satanás''. Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão.

Jesus tira as conclusões que valem até hoje. Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me. Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Portanto, não basta reconhecer Jesus como Messias. Não basta ter fé em Jesus. É preciso assumir a mesma missão do Messias. Ter a mesma fé de Jesus, O Cristo. 

Fraterno abraço.   Frei Fernando.

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