Sentir-se igreja, membro vivo de
uma comunidade de fé libertadora
“Igreja
é Povo de Deus”, nos ensina o Vaticano II. É hora de percebermos que o
sacerdócio comum está acima do sacerdócio ordenado. Os jovens não podem aceitar
uma relação que os coloquem como infantis e em uma postura de quem só deve
obedecer. Nada disso. Os jovens têm o direito e o dever de dialogar, discutir e
reivindicar o direito de decidir conjuntamente todos os assuntos que envolvem a
vida da comunidade cristã e da sociedade.
Comprometer-se com a Opção pelos
pobres e pelos jovens
O
apóstolo Paulo, ao escrever sobre o Concílio de Jerusalém, acontecido por volta
dos anos 49/50 do 1º século diz que a circuncisão, a maior de todas as
barreiras, tinha sido abolida e que a única coisa que os apóstolos fizeram
questão de alertar foi: “Não esqueçam os pobres.” (Gal 2,10) Esse alerta deve
ser acolhido por todas as pessoas cristãs. Mas faz bem ter um bom entendimento
sobre quem é pobre. Primeiro, o carente economicamente. Depois, a mulher, o
indígena, o negro, o homossexual, a divorciada, a mãe terra, a irmã água, o
meio ambiente.
O
pobre não é apenas como um poço de carência, mas principalmente um portador de
força ética e espiritual. Deus age a partir dos pequenos. “O mundo será melhor
quando o menor que padece acreditar no menor”, dizia Dom Hélder Câmara, o santo
rebelde.
Partir da periferia, do
oprimido
O Evangelho de Lucas interpreta a vida, as ações e os ensinamentos de Jesus ao
longo de uma grande caminhada da Galileia até Jerusalém, ou seja, da periferia
geográfica e social ao centro econômico, político, cultural e religioso da
Palestina. A Palavra, no Evangelho de Lucas, é a palavra de um leigo, de um
camponês galileu, “alguém de Nazaré”, pessoa simples, pequena, alguém que vem
da grande tribulação. Não é palavra de sumo sacerdote, nem do poder.
Priorizar a formação
Na grande viagem de subida para Jerusalém,
Jesus prioriza a formação dos discípulos e discípulas. Ele percebe que não tem
mais aquela adesão incondicional da primeira hora. Jesus descobriu que para
consolar os aflitos era necessário também incomodar os acomodados e denunciar
pessoas e estruturas injustas e corruptas. Assim, o homem de Nazaré começou a
perder apoio popular. Era necessário caprichar na formação de um grupo menor
que pudesse garantir os enfrentamentos que se avolumavam. Jesus sabia muito bem
que em Jerusalém estava o centro dos poderes religioso, econômico, político e
judiciário. Lá travaria o maior embate.
Não fugir do combate
O Evangelho de
Lucas diz: Jesus, cheio do Espírito, em uma proposta periférica alternativa,
vai, em uma caminhada, de Nazaré a Jerusalém; ou seja, vai da periferia para o
centro, caminhando no Espírito. Em Jerusalém acontece um confronto entre o projeto
de Jesus e o projeto oficial. Este tenta matar o projeto de Jesus (e de seu
movimento) condenando-o à morte na cruz. Mas o Espírito é mais forte que a
morte. Jesus ressuscita. No final do Evangelho de Lucas, Jesus diz aos
discípulos: “Permaneçam em Jerusalém até
a vinda do Espírito Santo” (Lc 24,49).
Estar sempre em movimento
Andar na contramão
Seguir Jesus implica andar na contramão,
remar contra a correnteza de tantos fundamentalismos e da idolatria do
consumismo. Exige também rebeldia, coragem, audácia diante de costumes que
entortam o queixo e de modas que aniquilam o infinito potencial humano existente
em nós. Ser ,
na prática, luz no mundo, sal na comida, fermento na massa, algo que sempre
incomoda.
Saber a
hora de conviver e a hora de lutar
O Evangelho de Lucas apresenta dois
envios de discípulos para a missão. No primeiro envio (Lc 10,1-11), Jesus
indicou aos discípulos que fossem para o campo de missão despojados e
desarmados. Assim deve ser todo início de missão: conhecer, conviver,
estabelecer amizades, cativar, assumir a cultura do outro, tornar-se um irmão
entre os irmãos para que seja reconhecido como “um dos nossos”. No segundo
envio (Lc 22,35-38), em hora de luta e combate, Jesus sugere que os discípulos
devem ir preparados para a resistência. Por isso “pegar bolsa e sacola, uma espada – duas no máximo.” (Lc 22,36-38).
Durante a evolução da missão, chega a hora em que não basta esbanjar ternura,
graciosidade e solidariedade. É preciso partir para a luta, pois as injustiças
precisam ser denunciadas. Ao tomar partido e “dar nomes aos bois” irrompem-se
as divisões e desigualdades existentes na realidade. Os incomodados tendem
naturalmente a querer calar quem os está incomodando. É a hora das perseguições
que exigem resistência. Confira a trajetória de vida dos/as mártires da
caminhada: Padre Josimo, Padre Ezequial Ramin, Chico Mendes, Margarida Alves,
Sem Terra de Eldorado dos Carajás, Irmã Dorothy, Santo Dias, Chicão Xucuru,
Padre Gabriel etc.
Resistir, o que não é violência, mas legítima defesa
Diante de
qualquer tirania e de um Estado violentador, vassalo do sistema capitalista que
sempre tritura vidas e pratica injustiças, é dever das pessoas cristãs
resistirem contras as opressões perpetradas contra os empobrecidos, os
preferidos de Jesus. Lucas, em Lc 22,35-38, sugere desobediência civil –
econômica, política e religiosa. Em uma sociedade desigual, esse é “outro
caminho” a ser seguido (cf. Mt 2,12) por nós, discípulos e discípulas de Jesus,
o rebelde de Nazaré.
Frei Givander Moreira ).Carm.
Continuaremos com a reflexão da Cf na próxima postagem
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